Como estamos no Brasil, temos encontrado muitos amigos e parentes e todos fazem a mesma pegunta: E aí, adaptados?
Eu sempre brinco que me adaptei no primeiro dia e, isso, é uma grande verdade. Mas vou explicar a história direito.
Morar no exterior era um sonho/desafio de carreira para meu marido. Há alguns anos ele vinha falando nisso, o que me deixava ansiosa e até mal humorada. Explico. Sou capricorniana, terra é o meu nome. Gosto de preto e branco. Não sou aventureira e não tenho espírito cigano. Nasci em Belém, mas com 1 ano minha mãe foi transferida para Brasília e passei minha vida toda por aqui. Sou tradicionalista e tenho raízes. Sou tão tradicionalista que, quando viajamos para um lugar e eu gosto, no ano seguinte, eu volto. Isso mesmo: mesmo destino, mesmo hotel, mesmo período, mesma quantidade de dias. Foi assim com Ilhéus, depois Gramado, depois Porto de Galinhas, depois a Disney etc. Meu marido é o oposto (não dizem que os opostos se atraem?!), ele adora conhecer lugares novos e variar a rotina. Só não vou para Gramado todos os anos no Natal Luz porque ele se recusa!
Pois bem, há uns 6 anos, mais ou menos, ele veio com esta história de tentar uma carreira no exterior já que a empresa em que trabalha possibilita isso. Eu tremi nas bases. Ele apenas me falou sobre essa vontade e eu passei 3 noites sem dormir! Os dias foram passando, eu engravidei e ele chegou com a bomba: E aí?! Topa ir para Ásia? Não preciso dizer que quase tive um surto e passei mais de uma semana sem dormir...agradeci a oferta e recusei. É muuuito longe de casa.
Aí, as crianças nasceram e esse desejo dele adormeceu. A carreira dele tomou outros rumos por aqui e esse assunto desapareceu da nossa vida. No início do ano passado, o assunto voltou e com força total. Ele argumentou que seria uma oportunidade maravilhosa para as crianças e para nós dois também já que viver numa outra cultura, aprender novos idiomas, conhecer novos lugares enriquecem a vida de qualquer ser humano. Topei, mas disse que dependeria muito do lugar. Vieram algumas sondagens do tipo: Africa, se não me engano, Bolívia, México e outras. Alguns pouquíssimos amigos do trabalho acompanharam minha angústia.
O marido ligava e dizia: México? Eu corria para a internet, lia o que podia sobreo lugar, sempre encontrava coisas ótimas e coisas ruins (como qualquer lugar do mundo!) e dava meu veredito. Para todas, eu tinha algo contra que pesava muito na minha decisão. Até que, num certo dia, eu estava em uma reunião no meu trabalho e recebo um SMS com as seguinte palavra: MILÃO?
Gente, foi imediato e totalmente inusitado para meu perfil "não arredo o pé de onde moro". Respondi: Posso arrumar as malas? E ele com a tranquilidade de um Buda me responde: Ainda não.
Pronto, na minha escala de ansiedade que vai de 0 a 10, eu estava em 89! Parecia que ia mudar no dia seguinte. Não consegui me concentrar no trabalho, um desastre. Não sei o que me deu, mas ler Milão abriu minha mente para mil possibilidades: a chance de morar numa cidade que eu achava realmente bacana, morar na ITÁLIA (eu brinco que fui italiana na encarnação passada!!), aprender italiano (eu só sabia falar pizza e ferrari em italiano), ter a chance de acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos meus filhos (esse foi o fator determinante já que eu sou era uma mãe que passava entre 10/12 horas por dia por conta do trabalho...sentimento de culpa, a gente vê por aqui!).
Bom, Milão se tornou realidade, mas eu tinha realmente dúvidas se ia me adaptar ou não. O marido, eu tinha certeza de que se adaptaria facilmente e, para as crianças, isso era só uma questão de tempo.
Na empresa, eles proporcionam algo bem legal que facilita a adaptação das famílias em outros países: uma visita prévia! E eu e maridão fomos a Milão passar uma semana, escolher apartamento, conhecer escolas, conhecer a cidade etc. Gente, foi amor à primeira vista! Me apaixonei. Por tudo.
Quando voltamos a Brasília foi a vez da loucura da mudança. Vende coisa, doa coisa, joga coisa fora. Um ato de desprendimento que exigiu muita coragem. Marido foi 1 mês antes, pois precisava começar a trabalhar e queria deixar o apartamento o mais preparado possível para quando eu chegasse com as crianças, o que aconteceu em 07/02/2011.
Eu estava exausta neste dia, mas extremamente feliz. O marido estava mais ou menos adaptado (ele pegou muito frio quando chegou, estava sozinho, numa casa sem TV, internet e anoitecia às 16:30!), o apartamento já com alguns móveis, as crianças matriculadas na escola e eu estava com uma sensação de segurança e tranquilidade que eu não esperava/acreditava. Perecia que já era minha realidade há anos! Impressionante! Acho que deixei de ser capricorniana neste dia! Tivemos muitas dificuldades, ralamos muito - ainda ralamos muito! - mas eu não troco "minha nova vida" por nenhuma outra. As crianças demoraram para engrenar, mas estão se saindo muito bem. Marido gosta do trabalho, ajuda na casa, descobre lugares para conhecermos. Viajamos quando podemos (já repetimos alguns lugares, óbvio!). Mas, se alguém me pergunta: E aí, adaptados? Eu respondo: Claro, adaptadíssimos. E como poderia ser diferente?!
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