30 de setembro de 2012

Massagem ou tortura chinesa?

Eu adoro massagem. Acredito que todo mundo mereça uma massagem, nem que seja apenas uma vez na vida. Aqui, as massagens são carérrimas e acabei deixando esse "luxo" de lado, mas sinto muita falta!

Pois bem, estávamos na praia um dia desses e apareceu uma chinesa oferecendo 40 minutos de massagem relaxante por um preço bem acessível. Marido, que sabe o quanto gosto, perguntou se eu não gostaria de fazer. Pensei, pensei, pensei e disse à chinesa que voltasse mais tarde enquanto me decidia. Ela só respondeu: glazie, glazie. A minha dúvida era a seguinte: eu adoro massagem, mas sou fresca pra caramba. Gosto de fazer massagem num lugar bacana, confortável, com musiquinha clássica ao fundo, barulhinho de água, toalhinha quente no final e todas as frescurisses a que tenho direito. Na caminha da praia, ao ar livre, com as crianças brincando e tagarelando ao lado, todo mundo olhando...ai, ai. Mas...depois de tanto tempo sem massagem, o fato de a praia ser praticamente nossa (estava muuuuito vazia), a chinesa começou a me parecer simpática e, vamos ser sinceros?, chinesa deve entender dessas coisas, né? Então, vamos lá. Marido, chama a massagista. E o marido: Signola, Signola! Caí na gargalhada!

A signola pediu que eu deitasse na caminha. Deitei e ela já soltou a parte de trás do bíquini. Limpou minhas costas com um paninho que sabe Deus qual era o estado de conservação, tacou um óleo que sabe Deus com o que foi feito e começou os "trabalhos". Começou a soltar uns nózinhos que tenho nas costas e eu,  até esse momento, até que estava gostando. De repente, ela abaixa um pouquinho a calcinha do bíquini. Entendi que era necessário para que ela alcançasse a parte do cox. Sabe onde é? Pois é, tudo bem. Sei que funciona desse jeito, mas o marido não perdeu a oportunidade: tá pagando cofrinho, hein? Quase morri de tanto rir! Nisso, Duda e Dudu começaram a correr ao redor da caminha e da chinesa. marido disse que iria controlar a prole para que eu pudesse aproveitar o momento relax e colocou as crianças para brincar na areia. Aí, a chinesa começou a falar comigo numa língua que, definitivamente, não era italiano. Entendi algo como: Signola, li, lápido, ok? e eu: ãh? Scusi, non ho cappito (não entendi). E a chinesa: Signola, li, massagi, lápido, ok? e eu: ok... A chinesa se levantou e foi embora. Isso mesmo! Foi embora sabe Deus pra onde (nossa! Como Deus entrou de cabeça neste post!) e eu lá, com o biquini desamarrado, lambuzada de óleo chinês, pagando cofrinho. Virei para o marido e perguntei: e aí? Você acha que ela volta? Ele: ela está falando com outra pessoa, deve fazer outra massagem e volta. E eu: e eu vou ficar assim até quando? Aí, Duda chega perto de mim e diz: deixa mamãe, eu te ajudo. E começou a amarrar meu biquini com as mãozinhas cheias de areia.

Passaram-se 2 minutos e a chinesa voltou. Não disse nada (até porque não faria a menor diferença...), desamarrou o biquini de novo e recomeçou os trabalhos. Aí, ela sentiu a areia. E eu também. Minhas costas estavam cheinhas de areia. Ela pegou o "cheiroso" (nome dado carinhosamente a paninhos que  limpam as mesas de botecos!) e começou a esfregar nas minhas costas. Pronto, agora eu estava fazendo massagem e exfoliação. Tratamento 2 em 1. Só comigo mesmo! Eu disse que estava incomodando, mas você acha que ela parou? Claro que não! Ela tinha que cumprir os outros 37 minutos do contrato! E eu, sei lá porque, fiquei ali, aguentando a exfoliação. Não restou uma pelinha morta nas minhas costas. Aliás, acho que até as vivas foram arrancadas! 

Nesse momento, marido resolveu ir para o mar com as crianças que não paravam de me chamar. Ficamos eu e minha torturadora massagista. Aí, ela passou para os pés. Você deve pensar, ai que delícia, uma massagem nos pés, na praia...puro delírio. Foi aí que começou a tortura. Gente, a mulher pôs tanta força no meu pé, tanta força que dava choque. Sério. Ela passava o dedo nos ossinho embaixo dos dedos, do mindinho para o dedão com tanta força, tanta força, acho que pegava um nervo, sei lá. Era uma coisa insuportável! Eu dizia que estava forte demais e ela só repetia: forza? ok! E colocava mais força! Comecei a puxar o pé da mão dela. Ela já me segurava pelo tornozelo. Eu puxava de um lado e ela do outro. Foi nesse momento que descobri como que os pés das chinesas, japonesas, sei lá mais quem, cabem naqueles sapatinhos micros: eles quebram os pés das mulheres com massagens chinesas! Só pode ser. Que dor!

Nessa hora, começaram a chegar nossos vizinhos de barraca de praia. Sério, a praia estava deserta. Tinham 55.213 barraquinhas vazias, mas sentou uma família do meu lado direito e outra do lado esquerdo, bem na hora que ela começou a massagem nas minhas pernas. Ela colocou o pé na caminha, dobrou o joelho, pegou minha perna e apoiou na perna dela. Imagina a minha pose? Toda arreganhada no meio da praia! Delícia de massagem, pensei! Ela fez a mesma força utilizada nos pés. Comecei a implorar clemência nesse momento. Implorei para ela parar e ela não me ouvia, não entendia. Não consigo explicar porque me sujeitei a isso até o final. Acho que fiquei com pena dela.... Sou tão assertiva às vezes e tão mané em outras....fui definitivamente mané esse dia! Tenho que me aprimorar nesse sentido! Ainda bem que depois das pernas, a massagem acabou. Livre! Eu estava livre!!!

No final, ela disse Glazie. Domani, io qui. ok? Acho que ela estava me dizendo que se eu quisesse repetir a dose, ela estaria ali amanhã. O que vocês acham? Eu voltei? Claro que não, nem pus meus  pezinhos quebrados na praia!

O saldo foi:

Massagem: 15 euros
Ossos quebrados: 2 (brincadeira!)
Roxos nas pernas: só 3, por incrível que pareça
Pagar cofrinho no meio da praia, levar choque nos pés e ter uma família italiana vendo meu útero: não tem preço!


A praia estava deserta!

Minha massagista preferida

26 de setembro de 2012

Vai um cachecol aí?

São 15:00, faz sol e 23 graus. Tá certo que o verão já é passado e o outono, a nova realidade, mas será que tá frio e eu não estou sentindo? Na porta da escola está cheio de mães, avós, motoristas vestindo casacos, usando botas e, PASMEM, cachecol!! Ah! Mas todos estão com o bronzeamento artificial em dia! Claro!! Todo mundo laranjão faça chuva ou faça sol! Com ou sem cachecol!!

24 de setembro de 2012

Cinque belle Terre

Como ficar em Milão no final de semana é um sacrilégio, fomos dar uma voltinha. Eu queria muito conhecer Cinque Terre que fica a míseros 220 km de casa! Entrei na internet, peguei várias dicas  de onde ficar, o que fazer etc e partimos! 



Cinque Terre, como o próprio nome diz, são 5 terras, ou seja, 5 cidades beeem pequeninas que  ficam na região da Liguria, num terreno rochoso, coladinho ao mar. Acho que foi um dos lugares mais bonitos que já conheci. Uma beleza natural incrível. A gente se acostuma por aqui a ver coisas belíssimas construídas pelo homem. Ali, a natureza é o ponto alto!

As cinco cidades são: Monterosso al Mare, Vernazza, Corniglia, Manarola e Riomaggiore. Cada uma com uma característica e um atrativo diferente. Existem várias formas de conhecê-las: trem, barco ou a pé (dura 5 horas a caminhada. Marido quer voltar para fazer o caminho a pé, mas teremos que deixar as crianças, pois será impossível fazer isso com elas). Escolhemos o trem pela comodidade e rapidez, mas o passseio de barco me pareceu mais bacana. 



Reservamos um hotel em La Spezia (uma cidade portuária, pequena e pertinho Cinque Terre). De lá saem os trens. Para ter uma ideia, Riomaggiore fica a 9 minutos de La Spezia. Tudo muito coladinho. Começamos por Monterosso. Uma micro cidade, com apenas 1.000 habitante. O atrativo da cidade é  a praia. O visual é bem bacana e o mar é um show a parte. Limpo e transparente, mas já estava ficando gelado. É a mudança da estação. Como estava um dia lindo de sol, levei roupa de banho para as crianças e elas se esbaldaram. Aproveitamos e almoçamos por lá, num restaurante pertinho do Il Gigante. Uma estátua encravada nas pedras.






Tem um gigante de pedra atrás das crianças, dá pra ver?

Saímos de Monterosso e fomos (nós e a torcida do flamengo!) para Vernazza. São apenas 4 minutos de trem, mas estava tão cheio, tão cheio que pareceu uma eternidade. Vernazza é uma gracinha. Uma cidade que foi arrasada ano passado por uma tempestade. Eles colocaram várias fotos de como a cidade ficou após o desastre. Algumas ruas ainda estão machucadas, mas achei que a reconstrução foi bem rápida. Chegamos e andamos sem rumo. Chegamos a uma escada, num morro e subimos, subimos, subimos. Lá em cima funcionava o restaurante com uma das vistas mais bonitas que já vi. Como não iríamos comer, fomos literalmente expulsos do local. O garçon dizia: vanno via, vanno via. Descemos e fomos para uma praça onde se pode pegar o barco que faz o passeio pelas 5 cidades. Com a aproximação do barco, o mar fazia ondas altíssimas que estouravam na praça. As crianças brincaram muito de fugir da onda gigante. Não queriam ir embora de Vernazza!









De Vernazza partimos para Corniglia. Logo que chegamos, vimos que a cidade ficava num morro muito alto e que seria difícil chegar lá em cima. Foi aí que marido viu umas pessoas entrando numa van parada em frente à estação de trem. Quando chegamos perto, vimos que as pessoas apresentavam o ticket do trem que dava direito a parar nas 5 cidades. Mostramos o nosso e a motorista disse para subirmos. Ainda bem, pois vimos uma placa que dizia que eram 365 degraus para chegar no centro de Corniglia. Tem que ter muita perna e joelho!

Chegamos e fomos tomar um sorvete! Delícia! A cidade é muito bonitinha, cheia de ruas apertadinhas e muitas, muitas escadas. O que se sobe e o que se desce ali não é brincadeira. Paramos num mirante  para apreciar a vista. Gente, que coisa linda! De lá ainda era possível avistar Manarola, a 4a. cidade.










Depois de Corniglia, tomamos uma decisão muito importante: pulamos Manarola! Sério, já estávamos há 6 horas andando, subindo em trem, descendo de trem, cansados. Resolvemos seguir direto para Riomaggiore. E gente, essa foi a parada mais bonita. Na verdade, a vista vai ficando cada vez mais bonita. Em Riomaggiore existe a Via dell'amore ou Via do amor. É uma estrada feita na pedra (mas a estrutura é bacana!) que liga Riomaggiore a Manarola, são 25 minutos de caminhada. Lindo demais!! No meio do caminho tem um bar e um túnel cheio de coisas escritas nas paredes. Pelo caminho pode-se ver centenas de cadeados que os casais apaixonados deixam por lá. Deve ser pra "amarrar/algemar/prender em nome de Jesus" a pessoa amada! hahaha








Então, a dica para quem quer ir é: faça Monterosso, Vernazza, Corniglia, Riomaggiore, pegue a Via dell'amore, vá a Manarola, pegue o trem e siga para La Spezia. Simples, não?

Chegamos em La Spezia depois de 8 horas de caminhada e quase mortos! Só conseguimos sair para comer alguma coisa e era melhor ter ficado no hotel. Comemos no pior restaurante da Itália! Que comida intragável. Horrível, horrível. Tínhamos recebido a indicação de um restaurante que estava lotado e, ao lado dele, tinha essa trattoria dos infernos. A massa era ruim, o risotto era péssimo, a cotoletta era esquisita. Super não indicado e nem lembro o nome. Então, se você for à La Spezia e achar uma tratoria, por via das dúvidas, não entre! Vá em uma osteria, ristorante, Mc Donalds, Burger King....trattoria, não!!!!

No dia seguinte, fomos a Sarzana, uma cidadezinha medieval bonitinha. Tem uma pracinha com restaurantes, uma murada ainda bem conservada e só. O legal foi a feirinha que estava por lá. Compramos sabonetes, flores e Duda entrou de penetra num casamento! Ô menina curiosa!








Duda, de camiseta vermelha, esperando a noiva!
Seguimos para Portofino, o balneário das celebridades italianas, mas não conseguimos entrar. Carro só entrava depois das 17 horas...para irmos deveria ser ou de barco ou de ônibus. Aí, desistimos. Paramos o carro em Santa Margherita só para almoçar mesmo. Essa cidade é gracinha demais e fica bem ao lado de Portofino. Pode-se pegar um barco ali no centrinho. São apenas 15 minutos até  Portofino.





Olha a cor dessa água!

Até agora fomos barrados em 2 cidades. Barolo por causa do show do Bob Dylan. Em Portofino por causa da cidade que estava lotada. Tô começando a achar que é pessoal....

21 de setembro de 2012

Dia da Paz

Ontem as crianças comemoraram o dia da Paz na escola. As crianças foram vestidas de branco e tiveram várias atividades sobre o tema. A Duda chegou empolgada para contar sobre o dia:

- Mãe, sabe o ganso branco da paz?

A mãe está gargalhando até agora!!

17 de setembro de 2012

Vai uma Kuna aí? - Parte 2

Resolvemos fazer um passeio até Pula, uma cidade mais ao sul da Croácia. Ficava a 80 km de Umag e o o acesso pela auto-estrada foi muito tranquilo. Diferentemente de Umag, a influênca italiana no jeito de ser das pessoas é nula e o inglês é utilizado por 80% da população. Achei o pessoal de Pula bem mais simpático.

Apesar de ser a maior cidade da Ístria (maior península do Adriático), trata-se de uma cidade pequena com, aproximadamente, 60.000 habitantes. A cidade é conhecida pelo clima ameno, mar calmo e por sua beleza natural. Tem tradição na produção de vinho, pesca, construção naval (é uma cidade portuária) e turismo. Pula é o centro administrativo da Ístria desde os tempos romanos. Aliás, a influência romana fica evidente quando se avista a Arena, uma contrução imensa, muito bem conservada e que lembra muito o Coliseu.

Estrada para Pula

A arena


Ia ter um show no dia em que estávamos lá
Depois da arena, resolvemos "bater perna" pela cidade que é repleta de ruas para pedestres com lojas, bares e restaurantes. Seria um lugar para passar uns dois dias. Acho que a vida noturna de lá deve ser bem divertida.






No meio do passeio, vimos uma placa que falava de um abrigo subterrâneo. Pula foi um importante porto na Primeira Guerra. Era um centro militar estratégico para a Monarquia Austro-Hungara. Para proteger a população militar em caso de ataque aéreo, foi construído um túnel de 400 metros que servia também para armazenar munições e como cárcere para soldados inimigos. Na Segunda Guerra, o túnel foi ampliado e serviu também para proteger a população civil. Cabiam 6.000 pessoas lá dentro! Impossível não andar por lá e não pensar: Como?! Como cabiam 6.000 pessoas? É pequeno, estreito, apertado, sem estrutura alguma e frio (entre 14 e 18 graus). Impressionante essa questão da luta pela sobrevivência! A sensação lá dentro não é das melhores, mas valeu muito o passeio. As crianças aprenderam muito e nós também.




Depois, fomos a Fazana. Trata-se de uma micro cidade portuária, coladinha em Pula, com praia e pertinho da ilha de Brijuni, parque natural da Croácia. É de Fazana que saem os barcos para a ilha. Chegamos e achamos que seria só comprar o ticket e embarcar, mas não....é preciso reservar com antecedência, pois os barcos têm limite de pessoas e de horário. Não conseguimos fazer o passeio....uma pena, mas aproveitamos para curtir a cidade que tem uma orla bacana, com parquinho, bares e praia de pedrinhas.

Igreja construída no século 14



Tá vendo essa terrinha no funda da foto? É Brijuni. tão perto e tão longe...








No final desse dia começou a nossa vida/novela mexicana. Primeiro, Duda caiu do balanço, em cima das pedrinhas...choradeira total. Depois, Marcello começou a ter febre. Pegou uma virose que rendeu uma inflamação de garganta, seis aftas enormes na boca e quatro dias sem comer. Depois, Duda foi picada por uma abelha! Mais choro, mão inchada, anti-alérgico. Uma uruca de fim de férias inexplicável!

Mas, como tudo na vida passa, tudo passou! E ficaram as lembranças de um País com uma natureza incrível, com um idioma indecifrável, comida diferente, cheio de lugares ainda a serem desbravados por nós!