Uma coisa com a qual passamos a lidar com muita frequência nessa "nova" vida de expatriado é o tal do DESAPEGO.
Aprendi sobre ele duramente quando nos desfizemos de quase tudo antes de nos mudarmos pra cá. Na verdade, só restaram as coisas mais importantes: a casa, as fotos, vídeos e alguns (poucos) objetos pessoais e de casa que ficaram guardados na minha mãe e na minha sogra. O resto? Foi doado, vendido, alugado. Foi um exercício interessante, pois passa muito longe daquelas "faxinas" que fazemos nos armários no final do ano, quando apenas temos que tirar o que não queremos ou o que não nos serve mais. Na minha "faxina", me desfiz de coisas que ainda queria e que ainda me serviam, mas não "cabiam" na nova vida. Sabe o que mais aprendi com isso? Que é possível (e muito melhor) viver com menos. Aqui, tenho o básico. Vivemos bem, com conforto, mas com menos. Por que preciso de 72 taças? Tenho 6 que me bastam! Pra que 36 pratos se 12 são suficientes?! Pra que 6 jogos americanos? Agora, tenho um. E está muito bom assim. Devia ter feito isso antes!
E o desapego não é só de coisas materiais (acho que essa é a parte mais fácil), mas de hábitos, de costumes, e, principalmente, de pessoas. Quando decidimos vir morar do outro lado do Atlântico, sabíamos que teríamos que abrir mão da convivência diária com a família, com amigos queridos, colegas de trabalho. E não foi e não é fácil ficar longe. Não é fácil ver as fotos dos jantares, comemorações de aniversários, simples almoços de segunda-feira perdidos. Sabemos que somos amados, queridos e lembrados, mas é diferente ver tudo de fora. É como se estivéssemos assistindo a uma novela. Os personagens são os mesmos, mas de atores passamos a expectadores. E isso é bom e ruim. É isso mesmo. Simples assim. Dual assim. Ambíguo assim. Pois não acredito que uma coisa, pessoa ou evento possa ser somente bom ou ruim. Tudo e todos têm aspectos positivos e negativos. Isso é vida!
A tecnologia está a nosso favor. Falamos com as pessoas diariamente, temos acesso a todas as informações sobre o País. Eu sei que a vingança da Nina começou! Que um jogador de basquete de 19 anos foi morto por uma tabela que despencou! Que a gripe A está voltando no sul, pois as pessoas "baixaram a guarda"! Acompanhamos o julgamento do Cachoeira. Lembro, quando eu, meu pai, minha mãe e minha irmã nos mudamos de Belém para Brasília no século passado e falávamos com minhas avós todos os domingos, mas só depois das 20 horas, pois era a tarifa mais barata do telefone! Uma vez por semana, uns 30 minutos com cada família, depois das 20:00. Só. Lembro também quando minha madrinha se mudou com a família para Portugal. Passávamos meses sem falar com ela. A comunicação era feita com postais e cartas. Eles terem notícias do Brasil? Ha, Ha. Pouca coisa chegava a eles. E pouca coisa deles chegava a nós. Agora? Falo com meus pais quase diariamente e de GRAÇA! E viva o skype! Eu vejo meus pais. Eu vejo minhas amigas. Eu vejo meus sogros. Eu vejo minhas sobrinhas. Eu leio o uol, o globo, a folha, a veja, a época. Eu tenho acesso ao que quiser. E vou te dizer uma coisa, isso minimiza a distância pra caramba. Só tem um detalhe, para isso tudo estávamos preparados pois, quando decidimos, já sabíamos. Sabe para o que não estavávamos preparados? Para o desapego que iria acontecer aqui....
Quando você muda de País, você se agarra a tudo e todos que possam te fazer sentir "mais em casa", que te ajudam, que facilitam sua adaptação da forma que for...seja te levando ao supermercado para conhecer os produtos, indicando um pediatra para as crianças, falando português para te fazer sentir compreendida. Qualquer coisa mesmo. Depois de um tempo, como é natural, você acaba se sentindo parte de um grupo. Um grupo de brasileiros que se mudaram para Milão com as mais diversas expectativas: aprendizado, dinheiro, novas experiências, cultura, comida, sei lá. Cada um com um objetivo, mas com uma característica comum: a certeza de que estamos aqui de passagem e que nosso lugar é no Brasil, mas, a maioria, com muita vontade de viver ao máximo essa experiência que, sei, não é para todos.
Acontece que o tempo passa, o tempo voa e a poupança Bamerindus continua numa boa e você começa a "garrar amizade" com os novos hábitos, costumes, coisas e pessoas do lado de cá. E o que acontece? As pessoas, assim como nós, estão de passagem. Todos têm seu "prazo de validade" por aqui. E elas simplesmente....vão embora. Simples assim. E com elas, os hábitos e costumes que criamos juntos...Rotinas e laços de amizade feitos e desfeitos em poucos meses. Para uma pessoa enraizada como eu....ai, haja desapego!