28 de maio de 2012

A crise na Itália

Não. Não vá esperando uma análise da situação econômica da Europa. Não vou falar do plano de austeridade do Monti. Existem quilos e mais quilos de jornais que falam sobre isso... vou falar de como a crise começou a se tornar "real" aqui em Milão.

Quando falávamos em crise com os italianos no ano passado, era incrível, mas eles ainda estavam/pareciam incrédulos. Respondiam que sabiam que haveria uma crise, mas que ela não seria tão grave assim, que não atingiria a todos. Acho que pensavam assim porque o ser humano tem uma tendência a São Tomé...sabe aquele santo que tem que ver para crer? Pois é. Agora, eles estão vendo. E creem.

O que mudou? Muitas coisas. Vários negócios já fecharam. Empresas começaram a falir. Os aposentados estão ganhando menos e, quem pensava em se aposentar em breve já "aposentou" a ideia. Os mendigos, que quase não se via por aqui, estão por toda parte. Em cada esquina tem um, ou ajoelhado, ou em pé, mas todos te implorando por uma moedinha. A estação do metrô que frequento desde que cheguei aqui está lotada de sem-tetos. Quando chegamos, existiam 2. Hoje, contei 8. Desses, 3 são mulheres. O que eles fazem o dia inteiro? Pedem dinheiro. Nos trens, a quantidade de pessoas tocando violino, sanfona, cantando, carregando bebê deve ter triplicado. São várias pessoas em cada vagão. Impressionante.

A segurança de Milão era algo que eu falava para todos. Para nós que viemos de um País tão inseguro como o Brasil, a segurança na Itália era algo inacreditável, invejável até. Já não é mais. Outro dia, voltando de um jantar, vimos uma menina sendo assaltada. O ladrão correndo com a bolsa dela e ela atrás, tentando em vão, alcançá-lo. Um casal de amigos teve sua casa arrombada. Levaram tudo. Um ladrão entrou pela janela e fez uma limpeza nos 50 minutos em que eles ficaram fora de casa. Detalhe: eles moram no 5o. andar. Achamos que se não foi o homem aranha, foi o primo dele que subiu pelas paredes do prédio. O garçon do restaurante ao lado da nossa casa, do Amigo, teve uma péssima surpresa quando foi pegar sua moto após um dia de trabalho. Não estava mais lá. E por aí vai....casos e casos de pessoas assaltadas, de pessoas que perderam o emprego, de pessoas inseguras. A única diferença entre os assaltos daqui e os do Brasil é que, aqui, a vida ainda vale alguma coisa. Os ladrões não entram nas casas para render e machucar/matar pessoas. Os assaltantes na rua não andam armados. Eles procuram por coisas e não por pessoas. 

Hoje, vi uma cena que me tocou muito. Um senhor bem vestido, puxando a sua mala e gritando com todos na rua: "Monti, assassino, ladrão! Me tirou tudo!". Acho que ele havia perdido tudo mesmo, até a esperança.

Espero que a situação melhore, que soluções sejam vislumbradas e colocadas em prática e que as pessoas sejam poupadas. Parece que já é hora de perceberem que o capitalismo já deu o que tinha que dar e que se faz necessário um outro tipo de sistema econômico, mais igualitário, mais humano. E que as pessoas que governam os Países consigam pensar coisas novas e não suspirar com as lembranças do passado, pois esse, ah! esse já passou!

Um comentário:

  1. Sheyla, concordo plenamente com voce sobre o capitalismo, aliàs, concordo com todo o post! A primeira visao que eu tive da crise aqui na Italia foi quando ainda trabalhava como aupair. QQuando cheguei aqui, em meados de 2008, eu recebia em mèdia 5 propostas de trabalho por dia. Pude escolher, entre centenas, em qual familia queria ficar.
    No final de 2009, pensei em mudar de familia e recadastrei meu "CV". Embora tivesse a mais a experiencia de 1 ano e a lingua italiana, nao recebi nenhuma proposta. Curiosa, fui checar o numero de familias cadastradas e vi que tinha caido mais da metade. Essa foi a primeira "sensaçao de crise" que tive.
    E sò pra nao deixar de desabafar... ODEIO Monti, acho que ele è estupido, "menefreguista" e, como todos os outros, come na mao da Confindustria. Pronto, falei rsrsrs
    Beijos!

    ResponderExcluir