1 de agosto de 2012

Meu nome é desapego

Uma coisa com a qual passamos a lidar com muita frequência nessa "nova" vida de expatriado é o tal do DESAPEGO.

Aprendi sobre ele duramente quando nos desfizemos de quase tudo antes de nos mudarmos pra cá. Na verdade, só restaram as coisas mais importantes: a casa, as fotos, vídeos e alguns (poucos) objetos pessoais e de casa que ficaram guardados na minha mãe e na minha sogra. O resto? Foi doado, vendido, alugado. Foi um exercício interessante, pois passa muito longe daquelas "faxinas" que fazemos nos armários no final do ano, quando apenas temos que tirar o que não queremos ou o que não nos serve mais. Na minha "faxina", me desfiz de coisas que ainda queria e que ainda me serviam, mas não "cabiam" na nova vida. Sabe o que mais aprendi com isso? Que é possível (e muito melhor) viver com menos. Aqui, tenho o básico. Vivemos bem, com conforto, mas com menos. Por que preciso de 72 taças? Tenho 6 que me bastam! Pra que 36 pratos se 12 são suficientes?! Pra que 6 jogos americanos? Agora, tenho um. E está muito bom assim. Devia ter feito isso antes!

E o desapego não é só de coisas materiais (acho que essa é a parte mais fácil), mas de hábitos, de costumes, e, principalmente, de pessoas. Quando decidimos vir morar do outro lado do Atlântico, sabíamos que teríamos que abrir mão da convivência diária com a família, com amigos queridos, colegas de trabalho. E não foi e não é fácil ficar longe. Não é fácil ver as fotos dos jantares, comemorações de aniversários, simples almoços de segunda-feira perdidos. Sabemos que somos amados, queridos e lembrados, mas é diferente ver tudo de fora. É como se estivéssemos assistindo a uma novela. Os personagens são os mesmos, mas de atores passamos a expectadores. E isso é bom e ruim. É isso mesmo. Simples assim. Dual assim. Ambíguo assim. Pois não acredito que uma coisa, pessoa ou evento possa ser somente bom ou ruim. Tudo e todos têm aspectos positivos e negativos. Isso é vida!

A tecnologia está a nosso favor. Falamos com as pessoas diariamente, temos acesso a todas as informações sobre o País. Eu sei que a vingança da Nina começou! Que um jogador de basquete de 19 anos foi morto por uma tabela que despencou! Que a gripe A está voltando no sul, pois as pessoas "baixaram a guarda"! Acompanhamos o julgamento do Cachoeira. Lembro, quando eu, meu pai, minha mãe e minha irmã nos mudamos de Belém para Brasília no século passado e falávamos com minhas avós todos os domingos, mas só depois das 20 horas, pois era a tarifa mais barata do telefone! Uma vez por semana, uns 30 minutos com cada família, depois das 20:00. Só. Lembro também quando minha madrinha se mudou com a família para Portugal. Passávamos meses sem falar com ela. A comunicação era feita com postais e cartas. Eles terem notícias do Brasil? Ha, Ha. Pouca coisa chegava a eles. E pouca coisa deles chegava a nós. Agora? Falo com meus pais quase diariamente e de GRAÇA! E viva o skype! Eu vejo meus pais. Eu vejo minhas amigas. Eu vejo meus sogros. Eu vejo minhas sobrinhas. Eu leio o uol, o globo, a folha, a veja, a época. Eu tenho acesso ao que quiser. E vou te dizer uma coisa, isso minimiza a distância pra caramba. Só tem um detalhe, para isso tudo estávamos preparados pois, quando decidimos, já sabíamos. Sabe para o que não estavávamos preparados? Para o desapego que iria acontecer aqui....

Quando você muda de País, você se agarra a tudo e todos que possam te fazer sentir "mais em casa", que te ajudam, que facilitam sua adaptação da forma que for...seja te levando ao supermercado para conhecer os produtos, indicando um pediatra para as crianças, falando português para te fazer sentir compreendida. Qualquer coisa mesmo. Depois de um tempo, como é natural, você acaba se sentindo parte de um grupo. Um grupo de brasileiros que se mudaram para Milão com as mais diversas expectativas: aprendizado, dinheiro, novas experiências, cultura, comida, sei lá. Cada um com um objetivo, mas com uma característica comum: a certeza de que estamos aqui de passagem e que nosso lugar é no Brasil, mas, a maioria, com muita vontade de viver ao máximo essa experiência que, sei, não é para todos.

Acontece que o tempo passa, o tempo voa e a poupança Bamerindus continua numa boa e você começa a "garrar amizade" com os novos hábitos, costumes, coisas e pessoas do lado de cá. E o que acontece? As pessoas, assim como nós, estão de passagem. Todos têm seu "prazo de validade" por aqui. E elas simplesmente....vão embora. Simples assim. E com elas, os hábitos e costumes que criamos juntos...Rotinas e laços de amizade feitos e desfeitos em poucos meses. Para uma pessoa enraizada como eu....ai, haja desapego!     

4 comentários:

  1. Eu aprendi a me desapegar de amigos muito cedo: eu tinha 16 anos e TODOS (TO-DOS) os meus amigos mudaram de cidade. Acho que era 1996 ou 97, a mudança para o real fez muita empresa quebrar na minha cidade e - azar - 100% das empresas que faliram eram de pais dos meus amigos.
    Foi horrivel, um mes eu era cheia de amigos e no outro nao tinha restado ninguem!
    Foi muito dificil, mas aguentei. Aliàs, aqueles anos foram anos de muitas "perdas": meu irmao e minha cunhada foram embora para os EUA (meu irmao era meu melhor amigo), uma das minhas melhores amigas morreu, e todos os outros foram embora. Foi horrivel.
    Essa experiencia me ajudou muito ao longo dos anos, foi mais fàcil mudar de cidade e eu mudei muito: Ivaipora, Grandes Rios, Salvador, Aracaju, Londrina... e depois Italia.
    Aqui fiz poucos amigos, pouquissimos, mas eles entraram em meu coraçao. Meus poucos amigos e eu temos planos de continuar por aqui. Mas tem uma amiga que se eu penso em afastar-me dela, me vem uma tristeza muito grande! Eu sempre falo ao Henry: se a Maria (amiga) for embora, eu acho que eu morro! rsrsrs

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  2. Sheyla, achei vc pelo bog da Gisa e nesse post parece que vc tá falando diretamente comigo então já vou logo deixar um comentário! Menina! Tô na contagem regressiva para a minha mudança e também senti esse bendito desapego depois de sentir muito apego a muitas coisas. Agora vou fazer minha estréia deixando de ser "atriz" como você citou no seu texto. Uma certa dose de desapego faz bem a saúde. É muito assustador ( principalmente para quem é filha única ) mas quer saber, sorri ao te ler porque é assim mesmo, hora de fazer tudo novo e trabalhar nesse desapego e na construção de uma nova vida! Obrigada pelo post, me fez ficar feliz ( eu tava toda borocoxô hehehe ) ahhh e não podia deixar de citar: amei que vc escreveu igual aquele comercial e graças a vc agora vou dormir com essa bendita música na cabeça... então vamos lá O tempo passa... o tempo voa... hahahaha
    Bjs! Maria Flor ( do Blog Lollavie )

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    1. Maria Flor,
      Que bom que você ficou mais feliz depois de ler o post! Você nem imagina o quanto ME fez feliz! rsrsrsr
      A mudança não é fácil. O novo assusta, abandonar o que tínhamos é muuuuito difícil, mas temos muitos benefícios com essas situações! E o maior deles é a chance de "começar" de novo! Aproveite seu momento, não se assuste! Há luz no fim do túnel! Eu garanto!! E o que precisar, é só gritar! bjs

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  3. Vc como sempre consegue passar as pessoas que a seguem neste Blog com uma riqueza de detalhes todas as situações, que tenho a certeza que poucas pessoas tem este dom e vc tem...sabe, quando eu mudei para Portugal que vc lembrou muito bem a comunicação com o Brasil era dificil, uma vez descobrimos um orelhão que falava de grátis com o Brasil...imagine a festa que faziamos, nós e muitos brazucas...acompanhei a agonia de Tancredo Neves como vc esta acompanhando o caso Cachoeira e a vingança da Nina, que alias não acompanho , acho que sou das poucas brasileiras que não esta neste barco kkkkk sem ver, claro. Tinha um amigo nosso que era da Embaixada do Brasil e me dava jornais e a VEJA...a minha Veja, que no Pós Doutoramento de Geraldo como fomos já em uma situação melhor, fiz ela chegar até Lisboa.,..Chic não é ????
    Acredite Boneca, eu devorava estes jornais como se fossem do dia, e lembro bem do primeiro dia quando cheguei em Lisboa...da Janela do avião eu PROCURAVA algo que me lembrasse Belém, para amenizar a minha saudade....NADA, não haviam mangueiras e sim Ciprestes...e isto é uma das situações que passamos mas a vida foi seguindo, me adaptei a Lisboa e pegava todo o pouco dinheiro que tinhamos para fazer a coisa que mais amo fazer até hoje. VIAJAR.. arranjei um grupo de viagem e fomos pela primeira vez a PARIS e a ROMA e claro inumeras cidades...o grupo era incrivel e quando tivemos que voltar para o Brasil eles iriam a Viena, o meu sonho...seguia no roteiro aonde eles estavam...e depois , claro, realizei mais este meu sonho e fui 3 vezes a Viena.
    No tempo das cartas eu tinha um amigo a que descrevia as nossas viagens, que ele me dizia que viajava junto comigo de tanta riqueza de detalhes que eu passava em minhas narrativas...
    Eu vivi muito bem na Europa, viajei bastante e por isto curto muito o que vc esta passando neste Blog para quem lhe segue...
    Quem sai aos seus não degenera...não é a toa que sou a sua madrinha...
    Amei de paixão, quem sabe um dia não volto mais uma vez a esta Europa que amo de paixão...curta muito !!!
    Beijos adoro vc !!!!

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